Acho que uma vez nas nossas vidas, mais cedo ou mais tarde, conhecemos uma pessoa completamente diferente das outras, tão especial, tão perfeita. Tudo em si corresponde a nós e finalmente a nossa vida ganha aquele brilho novo, fantástico. É verdade, esta magia acontece, e eventualmente temos a sorte de ser felizes com essa pessoa. Constrói-se uma relação de simbiose e necessidade, a qual poderia ser traduzida por inúmeras analogias com a Natureza. Quando a rotina muda, quando outra rotina se impõe, as partes do todo separam-se, o todo não deixa de o ser, apenas as partes estão mais distantes, mas ele funciona, sempre completo e vivo no coração de cada uma delas. Por isso, a distância e a ausência fazem esses corações pulsar, o meu e o teu, porque esse pedaço de tudo está lá exigindo o seu resto. É assim que nos apercebemos que amamos alguém, habituamo-nos às horas, aos dias, aos momentos, aos cheiros, eles cativam-nos, e quando faltam sentimos saudade. O brilho novo apaga-se um pouco como que guardando-se para criar recordações belas e reconfortantes. E quando alguém nos pergunta: "Tu ama-lo mesmo. Não amas?" o tu sorri porque é isso mesmo, simplesmente ama-lo com todo o seu coração e acabou de o perceber. Acabou de o perceber, porque perde um pouco da sua energia extravagante, da sua brisa marítima, do seu talento artístico ou o que se lhe equivale e uma normalidade avassaladora atinge-o. Era normalidade em que vivia feliz antes dessa pessoa completamente diferente das outras, tão especial, tão perfeita o ter cativado. Agora não lhe serve, porque viu mundos maravilhosos que nunca haviam existido no seu mundo, mundos que recebeu de coração aberto e que deu da mesma forma. Respira fundo algumas vezes, sente-se constipada e pensa que o tempo avança, vai-se sentir pior um dia destes, daqui a umas semanas melhor, bem melhor. Só deseja que
isto, sendo amor, como dizem, e verdadeiro, digno de exposição em museu, não morra antes dela, que vivam juntos e em simbiose próxima, que as distâncias aborrecem-na, porque a tornam vulgar.
Sem saber como, preciso de ti como a vida precisa de música, como um veleiro precisa de vento, Enfim tornaste-te numa parte de mim, simplesmente preciso de ti.